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  • Foto do escritorDakila News

Análise sugere que, ossos de preguiças eram usados como pingentes por humanos há mais de 25 mil anos

Recentemente, pesquisadores do Brasil, França, Estados Unidos e Irlanda, analisaram artefatos encontrados no sítio arqueológico de Santa Elina, em Mato Grosso e publicaram essas descobertas na revista britânica “Proceedings of the Royal Society B”.


O artigo tem como foco, a descoberta de ossos de uma preguiça gigante, onde levantaram a hipótese de seres humanos do passado terem usado esses como adornos corporais, por conta das ferramentas presentes e das marcas encontradas em algumas ossadas. Além disso, esse artefato indicaria a chegada dos seres humanos na América do Sul anos antes do que é previsto hoje pela ciência tradicional.


O sítio arqueológico de Santa Elina é famoso pela presença de diversas pinturas rupestres, sendo que investigações ocorrem por lá desde 1985. Ademais, foram encontrados os restos de uma preguiça gigante e milhares de osteodermos, placa óssea embutida na pele do animal, em uma caverna.


Os dados encontrados, sugerem que a espécie em destaque seja Glossotherium phoenesis, uma preguiça de aproximadamente 600kg e relativamente comum no Brasil, antes de sua extinção. Por conta de seus hábitos herbívoros, não há fundamentos que indiquem ataques aos humanos da época.


Três desses osteodermos foram analisados para o artigo, por conta das modificações encontradas, indicando uma intervenção antrópica. De acordo com Mírian Pacheco, uma das pesquisadoras, “À primeira vista, eles apresentam uma forma bem sugestiva de pingentes, principalmente devido ao polimento, que em alguns casos muda até a forma do osteoderme, e à localização de orifícios neles”


osteodermo polido com um orifício circular na ponta direita
Foto: Thaís Pansani

A arqueóloga Suzana Hirooka, afirma ser muito raro descobrir artefatos humanos desse período e ainda mais raro artefatos que tenham sido usados como acessórios. Além disso, a equipe encontrou marcas microscópicas que viabilizam o fato de alguém ter polido os ossos à mão, antes mesmo que eles virassem fósseis.


O paleontólogo, Carlos Cisneiros, explica “Podemos saber isso, porque um osso fresco tem propriedades químicas e físicas diferentes de um fóssil. Ele é mais mineralizado, mais pesado e quebra de maneira diferente. Quebrar, raspar e perfurar esse osso produz marcas diferentes”.


Durante o estudo, Pacheco afirma que “os dados de microscopia eletrônica e fotoluminescência permitiram distinguir diferentes tipos de marcas que nos ajudaram a concluir que as marcas atribuídas a seres humanos foram feitas em ossos frescos ou pelo menos antes do enterro da carcaça”. Ademais, algumas marcas que sugerem contato frequente dos artefatos com superfícies, foram indícios da utilização desses como adornos.

Figura 3 do artigo, mostrando as marcas antrópicas por meio de diferentes metodologias
Figura 3 do artigo, mostrando as marcas antrópicas por meio de diferentes metodologias

A pesquisadora ainda ressalta ser impossível estabelecer o real significado desses artefatos para o antigo povo de Santa Elina, sendo que o formato e a quantidade de osteodermos pode ter instigado a criação desses artefatos característicos.


Devido a fragilidade dos achados, os arqueólogos não efetuaram a datação diretamente nos pingentes. Sendo assim, através de sedimentos, carvão e outros ossos de preguiça gigante da mesma camada sedimentar indicaram a idade de 25 mil anos ao material.


Essa datação é considerada uma evidência de que os seres humanos e as preguiças gigantes coexistiram no continente sul-americano, além desse período coincidir com o Último Máximo Glacial, também conhecido como a última era do gelo. Outro indício, de que essas espécies conviveram no passado, é o tempo diminuto entre a morte das preguiças e a modificação deles. Isso é importante, para entender que eles sofreram alterações antes de fossilizarem, ou seja não foram seres humanos de uma época posterior a morte desses animais.

Ilustração mostra  a possível confecção dos pingente com ossos de preguiça gigante
Ilustração mostra a possível confecção dos pingente com ossos de preguiça gigante — Foto: Júlia D'Oliveira

Outra reformulação histórica, a partir desse estudo, é o fato de que muitas espécies da megafauna só foram extintas do Brasil há 10 mil anos atrás. Sendo que uma das hipóteses demasiadamente aceita é que o Homo sapiens exterminou essas espécies rapidamente, porém de acordo com os novos dados do estudo, eles coexistiram por pelo menos 15 mil anos.


Ademais, entende-se comumente que as Américas do Norte e do Sul, foram os últimos continentes a serem habitados pelos seres humanos modernos. Apesar da datação exata gerar conflito entre os estudiosos, a teoria mais aceita é a de que esses haviam chegado por volta de 13 a 15 mil anos atrás pelo Estreito de Bering. “No entanto, existem vários sítios arqueológicos nas Américas do Norte e do Sul que sugerem que os humanos estiveram aqui muito antes”, contrapôs a paleontóloga do estudo, Thaís Pansani.


Além desse estudo em Mato Grosso, a descoberta de pegadas humanas com datação de 23 mil anos no México colabora com Pansani. Ademais, a análise dos pingentes já é considerada uma das evidências mais diretas da relação entre seres humanos e animais da megafauna da Era do Gelo encontradas no Brasil.


Os indícios dessas interações são raríssimos, isso ocorre por diversos fatores, segundo Pacheco “O primeiro é o intemperismo: o fato de ser uma região tropical, a umidade e a vegetação, tudo isso pode prejudicar a preservação dos ossos. Os das preguiças gigantes de Santa Elina, por exemplo, estão muito friáveis [quebradiços]. Eles chegam a esfarelar com o manuseio. Os osteodermes devem ter se preservado por serem mais resistentes".


Outra razão, é a quantidade limitada de pesquisadores da área no país, além da complexidade de realizar as análises necessárias e comprovar comportamentos da época, como a caça e consumo da megafauna por seres humanos.



Referências:








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